Poesias

CANTO DOS FIGOS

Na manhã do sétimo dia
da brotação de tuas penas
estenderás o arco até romper-se a corda, e a seta
disparada ferir desta vida o sonho que nasce
de outro sonho e acorda, de carne e osso, na hora
primeira de outra vida aqui na terra, alma alvorecida
com olhos por dentro.

Do fogo irrompido, é a grande indignação
que se levanta e resiste em ti, esse inquietar-se
ao começar o dia, a vida que se fabrica, a vida
que aprende dos logros de ontem, se reinventa,
e dos estrumes a fermentar ao sol, a rosa íntima.
É de palavras indignadas que se fertiliza a terra.

Na tarde do sétimo dia
da brotação de tuas penas
de tudo duvidarás com a alegria desafiante
de quem nada exclui, pois é na terra fértil
das dúvidas que germina a dúvida primeira
das últimas verdades, e que só podes agarrar
depois que passam.

Dos dias juntarás os fragmentos da dúvida,
a vida que se colhe de seu útero prenhe de
paixões e risos,
restos e fetos da Esperança que tudo posterga
e espera no meio do caminho, genitálias ao sol,
a oferecer-nos, com a foice em riste, o amanhã,
os figos do paraíso, os búzios, entre círios e guizos.


26/07/2011

 

 

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